Do blog do Marconi Leal:
"Sabem vocês, leitores de dilatado conhecimento clássico, que Enéias não foi mais intérrito nem foram mais briosos os aquivos de grevas bem-feitas do que eu, em minhas seguidas tentativas de andar de bicicleta, entrar pra academia de ginástica ou elevar o cooper etílico à categoria de esporte (ver postagens “O Falecido Marconi Leal”, “Bravo, Forte, Filho do Norte” e “Redação de Volta das Férias”).
Estava, portanto, decidido a abandonar de vez toleimas desprovidas de qualquer nexo como o esforço físico e passar o restante da existência praticando os dois únicos movimentos que ultimamente me têm sido possível, diante de um pequeno aumento de peso: o de rotação e o de translação.
Contudo, por mais que seja um admirador da ciência econômica e até simpatize com o Guido Mantega, não suportava mais, ao me olhar no espelho, ver, em vez do meu reflexo, uma aula expositiva sobre os mecanismos da inflação.
É bem verdade não sou de confiar em entes que trocam a esquerda pela direita, como o espelho e o Arnaldo Jabor. Afinal, se gostasse de reflexões defeituosas, passaria a ler o Diogo Mainardi.
No entanto, tive que reconhecer que minha adiposidade havia alcançado um ponto crítico quando o espelho, de maneira capciosa e afetando intimidade, passou a me chamar de “Moby”.
- Quer que eu te mostre o “dick”? – respondi, irado.
- Pode ser. Quer que te ajude a tirar a barriga de cima? – ele insistiu.
- Olha que eu te coloco no banheiro de empregada, hein!
- Regime é sacanagem! Logo agora que eu tô viciado em gordura!...
Como não sou de discutir com seres inferiores, como móveis, plantas e deputados federais, deixei o espelho de lado. De lado para a parede. E, me afastando, fingi não ouvir que ele assobiava a música-tema do Balão Mágico.
Mas aqui digo a vocês, companheiros de desvalia nesta Terra inóspita: às vezes é recompensador ter em casa um ente indiscreto e disposto a falar bobagens o tempo todo. Seja ele um espelho, uma sogra ou um cunhado.
Porque, devo confessar, o espelho foi pra mim o que a maçã foi pra Newton: deu-me uma baita dor de cabeça mas, em seguida, também uma idéia. Estava definitivamente decidido a fazer um regime, camaradas."
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